É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
ser pensante, sentinte e solidário
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Hoje sou costurado, sou tecido,
saio da estamparia, não de casa,
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
( Trechos texto Eu Etiqueta – Carlos Drumod de Andrade)
Beleza Interior
Minha bolsa é Victor Hugo, minha camisa Tommy, meu suéter é Lacoste;
Minha calça é M Officer, minha sandália Arezzo,meu tenis Adidas e meu vestidinho Planet Girl.
Não saio sem uma peça especial; Mas nenhum dessas peças é original!
Quem sou eu?
Eu li pela primeira vez esse texto de Carlor Drumond de Andrade, estava no 1° ano do colegial. Naquele momento ele foi meu escape me apaixonei; Numa época onde me cobravam pela calça bailarina e camiseta da escola. Lembro de meu peso 38 kg, distribuídos 1,60 alt. Eu tinha um cabelo longo, todo encaracolado, eu nunca fui feia, mas nunca me encaixei nos padrões de beleza das meninas.
Minhas amigas eram meninas com aparência de mulheres, usavam roupas que acentuavam o que tinham de maior (risos). Lembro de um dia que a agencia de modelo Forum Elite foi a porta do colégio, e algumas meninas receberam um convite para participar de uma seleção para modelo fotográfico, passarela entre outras. E neste dia eu vestia uma calça bailarina cinza e uma camiseta com emblema da carreata que havia acontecido no carnaval 2000. Eu não ganhei o tal convite, na entrada.
Quando cheguei na sala de aula, todas falavam o que vestiriam no dia do tal concurso. Foi ai que uma amiga me perguntou Paula e você? Respondi não recebi nenhum convite!
Afirmo que naquela hora me senti insignificante por não receber o convite, foi estranha aquela sensação porque eu sempre me senti tão confortável com minhas roupas e minha maneira de me portar, sempre pensei que escola não era pra desfilar.
Contudo aquilo me entristeceu, sai da sala de aula e fui a biblioteca devolver alguns livros que havia pego. Então uma amiga (ela deveria usar GG aos 15 anos),veio atrás de mim e me entregou o convite dela e disse, Paula imagine que eu recebi esse convite, mas isso não é para mim; Eu ressaltei sua beleza e argumentei o porque dela não querer ir, mas ela disse que não se via naquele lugar.
Essa minha amiga é linda, se bem que não existe gordinha feia, todas vestem se bem, e tem uma magia que as acompanha, o sorriso delas encantam. Elas provam a muitas meninas que a busca louca pelo vestir P/M não é necessário para impactar.
Mas ela continuou Paula isso é mais sua cara, vai você! Peguei aquele convite fui pra casa pensando em que fazer.
Contei a minha mãe que eu havia ganho um convite, mas não disse como (acho que ela pensa até ler este post, que ganhei de algum olheiro), RSS coisas de mãe;
Então chegou o dia, fomos ao shopping. Vesti uma roupa de passeio, me maquiei muito pouco, soltei meus cabelos e fui. Chegando lá, deveria haver umas 300 meninas; A fila era enorme, haveria uma pré-seleção, e eu naquela hora como toda menina de 15 anos buscava aprovação de minha beleza exterior.
Quando começou a seleção que seria de 3 dias, lembro que chamavam nossos nomes e éramos direcionados a frente de um corpo de júri e uma câmera onde se gravava tudo que faríamos. Na hora avisaram que a primeira parte era demonstração de talentos. Algumas dançavam Tchan, outras cantavam Sandy Junior. Meu Deus o que eu faria?
Inventei um comercial de shampo, criei ali umas falas.Quando chamaram Paula Cristina fui lá sorrindo e falei:
Ei você que como eu, ama cuidar de seus cabelos, mas mesmo com tanto cuidado eles ficam fracos, quebradiços e sem vida.Você precisa experimentar Seda Ceramidas e verás o brilho a vida que ele trará a seus cabelos. (Não me lembro bem do texto, mas era algo assim); Fiz como via as moças fazerem no comercial balancei o cabelo e sorri!
Passei da primeira fase, passei na segunda, passei na terceira, na final ficaram 20 meninas; Eu fiquei!
Na época a proposta era irmos para São Paulo, mas eu precisaria de um book (todas as 19 meninas tinham um book, menos eu rss); Na ocasião não tinha condições de tirar fotos para um book e composite. Lembro-me da expressão de minha mãe ao sairmos e ela pensando onde conseguiria o dinheiro para eu tirar as fotos. Eu disse mãe, fui até longe de mais. Se for pra ser será. (Eu queria muito, mas não poderia pagar!)
Mas o que quero dizer com tudo isso, não foi meu corpo que me impulsionou ali entre as 300 meninas. E sim minha possibilidade de reação a uma situação. Minha identidade!
Isso mostrou que no final das contas não são os seios nem o bumbum que vence, nem a bolsa Louis Vuitton, muito menos o vestido Carolina Herrera que se trás no corpo.
Aos 16, não tinha uma bolsa Vitor Hugo, não usava Planet Girl ou M Office. A Calça que usei no primeiro dia para ir a seleção, não era de grife famosa e minha mãe pagou em 5x. A blusinha era Marisa!
Você entende o que estou tentando dizer?
Se você pode usar roupas caras de grife que bom, mas não faça disso sua identidade!
Porque o dia que você não as tiver, não saberá como agir.
Muitas mulheres adultas consomem compulsivamente, afim de manter o guarda roupa renovado. Mas esquecem que a roupa é vestida no corpo, e o corpo sem a renovação da mente é apenas um cabide!
Não sou contra mulhere vestirem se bem, pelo contrário acho que nós devemos nos vestir de forma honrosa, somos mesmo merecedoras do melhor.
Mas somos merecedoras porque nossas ações dizem isso e não nosso guarda roupa.
Algumas grifes com o tempo vem à falência, ou saem de moda;
Quem você é, sua personalidade e suas escolhas nunca serão trocadas no inicio da estação, porque você está Démodé!
PRECISAMOS AFIRMAR NOSSA AUTO IMAGEM, naquilo que acreditamos ser o melhor para nós; Não porque todo mundo tem, ou todos usam ou todos fazem.
O bem maior que minha amiga me fez me cedendo o convite foi provar um valor que ela já experimentará e aplicava na vida dela. Não é necessário ser igual esteticamente, ou usar a roupa de grife que está na moda para sermos alguém especial ou aceitos. Ela sabia ser gordinha, linda, charmosa. Ainda que as meninas tirassem sarro dela, ela sabia seu valor.
E eu passei a respeitar ainda mais meus valores,depois desta experiência. Na verdade sempre fui Vintage; Na época isso era considerado Démodé.
Se bem que hoje Vintage está na moda!
Está vendo como tudo muda ..
Enganosa é a beleza e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa sim será louvada. Provérbios 31:30